Gil entrou em meu escritório muito angustiado naquele dia. Estava impaciente e muito preocupado.
– O que foi, Gil?
– Fiz uma besteira enorme e não sei como agir.
– Como assim, Gil, o que aconteceu?
– Olha, Rangel, ainda bem que nossa sessão era hoje. Se não fosse, eu teria ligado para você porque preciso resolver isso, mas tenho medo de tornar as coisas ainda piores.
– Calma, Gil, para tudo há uma solução. Você só precisa de calma para avaliar bem as condições e assumir a melhor conduta. Primeiro você vai precisar me contar o que aconteceu.
– Ok. Sabe esse meu novo cliente?
– Sim, sei.
– Pois então, combinamos que eu orçaria com outros fornecedores uma das etapas do trabalho, a criação de uma infraestrutura de rede.
– Certo…
– Bom, eu liguei para três empresas que eu conheço e pedi o orçamento. Montei tudo direitinho e mandei para o meu cliente.
– E qual o problema? Ainda não entendi.
– O problema é que, nesse vaivém de e-mails, eu tinha recebido uma mensagem do diretor da empresa que me contratou sugerindo um outro fornecedor. Só que eu perdi esse email na caixa. Ontem, quando enviei para ele os três orçamentos, ele perguntou por que eu não havia incluído a sugestão dele. Foi só então que, desesperado, fiz uma busca na minha caixa de e-mails e encontrei a mensagem.
– E o que você fez?
– Nada. Já era noite e hoje eu viria aqui. Preferi ficar em silêncio e conversar com você antes. Mas, claro, passei a noite acordado e aproveitei para pesquisar esse fornecedor.
– E o que achou?
– Péssimo. Mas, sabe como é, cliente é cliente. Quando eles pedem…
– Bom, vamos lá. Você, de fato, cometeu um deslize.
– Pois é, cometi. Tenho de assumir a culpa e corrigir o problema, não?
– Nem sempre. É fato que manter uma relação de transparência é fundamental para que sua empresa seja ética. No entanto, você não precisa se acusar o tempo todo. Nesse caso, as coisas parecem já estar bem resolvidas.
– Como assim?
– Oras, você não disse que achou o fornecedor ruim? Pois então diga isso ao seu cliente. Se, no acordo que vocês fizeram, ele deixou nas suas mãos procurar um outro fornecedor, também é parte do seu trabalho orientá-lo sobre quem é melhor, quem é pior. Não se desgaste com esse deslize, que, no final das contas, não tem um impacto real. Apenas diga que você pesquisou a empresa e ela é pior do que as outras três cotadas.
– Será?…
– Claro! Agora, se você algum dia vier a cometer um erro que comprometa as operações, que altere resultados ou acarrete em algum problema maior, aí, sim você deve assumir a culpa e, de imediato, sugerir uma saída para resolver a situação. Entende?
– Sim… Estou fazendo tempestade em copo d’água, então?
– Está. – Respondi rindo.
– Ufa! Vou voltar já e responder a mensagem do diretor. Acho que já estou até mais calmo. Como pude perder a noite por uma coisa dessas?
Papo de Coaching é uma seção fixa onde discuto assuntos sobre os quais trato dentro do meu escritório. Às quintas-feiras, conto a vocês as histórias de uma pessoa especial, o Gil Vicente. Ele é um personagem fictício, mas suas dúvidas e angústias são muito reais. A voz de GV é a voz de outros clientes que, todos os dias, colocam em dúvida o que estão fazendo para viver, enfrentam desafios para se relacionar melhor no ambiente corporativo, para disputar uma promoção, para dar conta de muitas tarefas em um só dia. É disso que falaremos nesta coluna.