Gil estava um pouco atrasado naquele dia. Enquanto eu o esperava, repassei mentalmente nossa última sessão. Ele estava em dúvida sobre contratar um funcionário ou optar pela terceirização do serviço. Fiquei pensando no assunto e cheguei à conclusão de que, na minha opinião, o melhor para ele seria mesmo contar com um freelancer. Afinal de contas, a empresa está indo bem, mas ainda é muito recente. Assumir o risco e o custo da contratação por CLT é uma grande responsabilidade. Era nisso que eu pensava quando a campainha tocou.
– Como vai, Gil?
– Estou bem, Rangel. Desculpe o atraso. Como previsto, estou enrolado com muito trabalho.
– Pelo que vejo você fechou um novo negócio. É isso?
– Exatamente.
– Que bom! Parabéns.
– Obrigado, obrigado… mas, você já deve saber que continuo em dúvida.
– Ué!? Não decidiu o modelo de contratação ainda?
– Não. Quer dizer… Mais ou menos. Na verdade, eu acho que o mais vantajoso para mim é mesmo chamar um freelancer para esse trabalho pontual. Depois, se o cliente permanecer comigo e, sobretudo, se eu me der bem com a pessoa escolhida, posso pensar numa contratação fixa. Mas agora ainda não.
– Ótimo. Eu estava mesmo pensando nisso quando a campainha tocou e eu vim lhe receber.
– Pois é… Mas tenho uma dúvida sobre isso: quem contrata essa pessoa? Eu ou o cliente?
– Bom, isso é algo que você precisa decidir. Se você quiser arcar com os custos – lembre-se de que serão pagos impostos…– e também a responsabilidade total sobre o trabalho dessa pessoa, fica livre para chamar quem você quiser para o job. Uma outra opção é apresentar opções para o seu cliente, indicar pessoas que você conhece e, então, deixar que ele escolha, pague e também fique responsável pelo que a pessoa entregar.
– É… Me parece que a segunda opção é mais vantajosa para mim.
– Sim, parece. Mas, neste caso, você tem que estar aberto a aceitar a escolha do próprio cliente. Ele pode conhecer alguém que faça o serviço e decidir contratar.
– Putz, nesse caso, a qualidade e o modo de trabalhar não passa pelo meu crivo, certo?
– Provavelmente não.
– Entendi. Bom, vou ter que pensar novamente no que fazer. Ai, que difícil isso. A cada etapa eu perco um tempão decidindo que rumo tomar. Eu queria mesmo é botar a mão na massa e trabalhar logo.
– Ué, mas você esta trabalhando, Gil!?
– Mais ou menos. Estou resolvendo detalhes burocráticos para poder trabalhar.
– Você está exercendo sua função de empresário, Gil. Lembre-se: quando se tem o próprio negócio, boa parte do trabalho é cuidar da administração dele. Ou você acha que um restaurateur passa o dia na cozinha, elaborando pratos?
– É verdade, né? As vezes eu esqueço disso.
– E tem mais: agora, tudo é muito novo. Dá mais trabalho mesmo. Logo, logo, você estará decidindo assuntos como esse num piscar de olhos. Pode acreditar.
– Ok. Vou confiar.
Papo de Coaching é uma seção fixa onde discuto assuntos sobre os quais trato dentro do meu escritório. Às quintas-feiras, conto a vocês as histórias de uma pessoa especial, o Gil Vicente. Ele é um personagem fictício, mas suas dúvidas e angústias são muito reais. A voz de GV é a voz de outros clientes que, todos os dias, colocam em dúvida o que estão fazendo para viver, enfrentam desafios para se relacionar melhor no ambiente corporativo, para disputar uma promoção, para dar conta de muitas tarefas em um só dia. É disso que falaremos nesta coluna.